sábado, 13 de dezembro de 2008
Micro-economia III para boêmios
Micro-economia III para boêmios
Rogério Vincent Perito
Prezado leitor,
Assumi o desafio de explicar alguns problemas do curso de microeconomia III para um boêmio, um freqüentador assíduo de bares noturnos qualquer.
Nosso modelo trabalhará com a hipótese de termos dois tipos de consumidores, o “cervejeiro Vila Madalena” (CVM) e o “cervejeiro Vila Olímpia” (CVO). Antes de tudo, temos que entender o modelo do nosso mercado. Ele é composto por consumidores e produtores – nenhuma novidade em relação a outros mercados. A única observação “Fábulas de Esopo” é que nosso mercado possui competição perfeita. Em um primeiro momento, cuidaremos de nossos consumidores. Eles, os nossos cervejeiros, (idiossincrasias bairristas à parte) demandarão dois bens: o primeiro serão as relações sociais: uma boa prosa, encontrar os amigos e, quiçá, boas alcovas etc. O primeiro bem demandado será representado por X1. O segundo, obviamente, será o que faz dele aquilo que o denomina um cervejeiro, a cerveja - representada por X2. Bom, até aqui sabemos que o bem-estar de nossos consumidores serão representados por BESMáx = (UCVMMáx + UCVOMáx ).
Na outra ponta do nosso mercado estão aqueles que ofertam cerveja e a possibilidade do nosso animado cervejeiro travar relações sociais. Esses são os nossos produtores, aqueles com a responsabilidade de ofertar o serviço mais amado deste lado do Equador. Pois bem, uma pergunta relevante para pensar no mercado: independente das idiossincrasias, poderemos criar possíveis perfis de nossos cervejeiros? Afinal de contas, sair de casa para tomar cerveja envolve riscos, logo, nosso amoroso cervejeiro terá que decidir seu próximo passo em uma escolha sob risco, ou incerteza. A teoria microeconômica nos subsidiará de tal maneira que podemos responder nossa pergunta com uma afirmativa.
Descreveremos o risco como um possível resultado de uma determinada ação, bem como a probabilidade da ocorrência de cada resultado (Pindyck & Rubinfeld). Em suma, ficar bêbado e causar o vexame do ano, ser vítima do furto do som do carro na esquina do Filial e a mais provável em tempos de crise: usar irresponsavelmente o cartão de crédito e no mês seguinte ser demitido... Por fim, todas as escolhas envolvem risco e incerteza. Neste cenário, a priori, poderemos pensar em três perfis: aquele com aversão ao risco (usa alianças, bebe de maneira prudente, sai de casa sempre com hora e lugar marcado, estaciona o automóvel sempre no estacionamento etc.), neutralidade em relação ao risco (são indiferentes, um cara para quem a utilidade marginal do bar é constante) e o amante de risco (são aqueles que preferem a balada improvável/incerta em relação à provável/certa). Até aqui, já temos algumas informações em relação ao mercado, mas podemos sofisticar ainda mais nosso modelo.
Problemas clássicos que nosso etílico consumidor enfrenta: bares lotados (falta de lugar), cerveja em temperatura duvidosa, falta do sexo oposto como pay-off para permanecer no local. Em outras palavras, são todos problemas de informação assimétrica. A informação não está bem distribuída entre os nossos cervejeiros, o que leva o nosso amigo a realizar escolhas ineficientes. Poderíamos pensar em duas questões da microeconomia para solucionar esse problema:
i) Os dois teoremas do Bem-Estar: I – Teorema da Mão-Invisível: dada a existência do mercado competitivo de bares e as funções objetivo dos agentes, a economia estabelecerá um único equilíbrio de Pareto. Resumindo: todos bebendo até o ponto subjetivo de bem-estar alcoólico e todos vendendo bem até o ponto objetivo de realizar lucro. Ocorrerá um ponto em que uns ficarão bêbados e felizes e outros ganharão dinheiro e ficarão também felizes – aumentando o bem-estar de todos (com exceção daqueles que sofrerem com os problemas anotados acima).
ii) Para resolver os problemas, ou distorções do mercado boêmio (cerveja quente, falta de pessoas do sexo oposto etc.), suponha que o status quo que prevalece na economia é o citado acima. Se as transferências na economia são Lump Sun, o Estado, por exemplo, poderá tributar para distribuir na porta dos bares placares eletrônicos informando a temperatura da cerveja, a relação homem X mulher, o market share do estabelecimento, entre outros. Aparentemente solucionaríamos o problema de informação assimétrica.
Outro ponto em que poderíamos pensar o problema dos arranjos de pay-off dos antropológicos bares é a teoria dos jogos. Um exemplo: imaginem um jogo de cooperação no Ó do Borogodó, com estratégias planificadas, provavelmente nenhum cervejeiro sairia só. Porém, esta é matéria da microeconomia II. Retomemos a microecnomia III!
Inevitavelmente, nosso cervejeiro enfrentará o duro trade-off entre o justo bloco carnavalesco e o eficiente bar elitista (já que, apenas para sorrir lá dentro, ele já desembolsou R$ 50,00). A grande questão é que justamente neste dia ele resolveu beber com o protestante Posner e com seu amigo católico Rawls. Na hora da decisão, Posner gritou: “o que é eficiente é justo ou o que é justo é eficiente!”. Nesse momento, Rawls, que voltava do banheiro, esbravejou: “você, prezado cervejeiro, é racional, razoável e avesso ao risco, prefere liberdade a não liberdade, prefere igualdade em relação à desigualdade. Sabe que todos têm o direito à liberdade e à uma cesta de bens primários, em que cerveja esteja incluída”. Nesta hora, Rawls, falando alto no bar, grita - antes de se sentar em sua cadeira -: “a liberdade individual deve ser maximizada!”.
Nosso amigo cervejeiro, sem falar nada, optou por maximizar o mínimo ganho e resolveu ir para o bloco do equilíbrio geral - o bloco mais procurado.
Chegando lá, nosso protagonista cervejeiro perguntou o porquê do nome do renomado bloco. Sem hesitar, um senhor com copo de whisky na mão e sotaque britânico começou a divagar sobre o equilíbrio geral dos mercados: “...Sun, ops, filho, imagine um ângulo de 90º. Em uma lateral deste ângulo, colocaremos as relações sociais de que tanto você gosta. Na outra, o glorioso suco de cevada. Traçaremos um arco que atinja ambas as laterais (Fronteira de Eficiência) e do vértice desta união de traços que formam este ângulo uma linha que sairá sem um sentido definido que tocará em um ponto determinado desse arco. Pois bem, um ponto qualquer neste arco será um ponto de máxima eficiência (ótimo de Pareto) na produção, porém, um ponto de ineficiência no consumo. Da mesma maneira, um ponto qualquer da linha que sai do vértice até o ponto determinado da curva será um ponto de ótimo de Pareto no consumo, porém, de ineficiência na produção. Agora imagine o ponto em que a linha encontra a Fronteira de Eficiência. Pois bem, este é o equilíbrio geral, um ponto de ótimo de Pareto na produção e no consumo, de máxima eficiência simultânea...”.
Vale lembrar, a composição tecnológica será constante; com a mudança da composição tecnológica, a Fronteira de Eficiência será deslocada para a direita e um novo ponto de eficiência será encontrado com a auto-regulação do mercado. Entre soluços de satisfação nosso cervejeiro sem nenhum incentivo para sair de lá permanece no bloco da utopia equilíbrio geral, até o deslocamento da fronteira de eficiência e o reencontro com o famigerado bloco!
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2 comentários:
ótimo texto!
engraçadíssimo.
bjos,
Helena
Gostei do senhor britânico no Ó e sua explicação sobre o ótimo de pareto! rs.
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