quinta-feira, 27 de março de 2008

Quinta-feira, depois do almoço: Qual a fronteira entre a arte e a política?






Politizar a estética ou estetizar a política?


Panfleto ou arte? Arte panfletária é arte? Ação panfletária na arte é politizar a estética? O que é estetizar a política?
A ARTE COMO ARMA DE GUERRA DE CLASSES

Corro o risco de cair no idealismo, mas creio que a arte não deve se submeter a nenhum status quo, mesmo em um pós-revolucionário, em uma condição pré-socialista ou pós-capitalista. Porém, ao mesmo tempo que assumo este risco, tenho claro que o sujeito da arte é a humanidade, não se trata de arte moralizante ou panfletária, se trata essencialmente da superação do caráter fetichista da obra de arte como mercadoria, a arte negação das relações sociais reificadas. Vejo na arte um enorme poder de síntese e inúmeras possibilidades de penetrar no invólucro invisível que a indústria cultural constrói no cidadão de bem, no homem inserido no casulo ideológico-cultural do capital. A arte deve ser espaço da exteriorização da imaginação, de um devir em que a beleza seja a priori afirmação da humanidade. Neste caso a imaginação deve ser desafio e protesto, deve ser a desnaturalização daquilo que não é natural, a nossa intolerância com a fome e a miséria, afirmar o humano como o sujeito. A obra beethoeveniana, por exemplo, deve ser o predicado da humanidade, a afirmação constante do homem livre, da superação das necessidades e de um homem que o desejo não seja a expressão do estranhamento – o produto dominando o produtor. Nossa estética deve ser a estética da libertação, nosso método deve ser aquele que é construído a partir do confronto entre aquilo que desejamos e o estar sendo.
A estrutura social do capital possui como grande marco econômico à divisão social do trabalho, em outras palavras, uma sociedade em que a humanidade está cindida entre representantes do trabalho e do capital. Uma contradição inconciliável, cada lado com interesses antagônicos em relação ao outro lado, um confronto balizado pela apropriação da riqueza social. Tal conflito possui expressão nas questões objetivas e subjetivas dos homens e mulheres que organizaram a sociedade do capital e do trabalho livre dos meios de produção. Podemos qualificar como questões objetivas as questões da infra-estrutura da sociedade, ou seja, as ordens da prática sensível de produção da vida da humanidade, o econômico, o ato concreto de produzir algo. Das subjetivas, apontamos o espaço da super-estrutura, a política, o campo das idéias, da arte, da cultura em geral produzida pela sociedade. Neste confronto a arte e a cultura entram como elementos legitimadores e naturalizantes da ordem estabelecida, ou a possibilidade da humanidade não ser somente humanidade em si, mas humanidade para si. Uma possibilidade da humanidade perceber que o projeto de humanidade não pode realizar-se nos marcos do capital, a arte libertando a humanidade do automatismo da percepção , de relações sociais mediadas pelo dinheiro, da coisa que toma vida no lugar do humano. Estamos falando da estética como existencialismo, da estética da liberdade e da libertação.
Do outro lado à reprodutibilidade técnica da arte, pondo em cheque a imaginação da humanidade, destruindo os laços da necessária transcendência, a morte da arte. A arte em sua forma just in time ou fordista - mercadoria - unidade contraditória de valor e valor de uso, não mais uma arte experiência quase que espiritual, não mais um ritual de sensibilidade e percepção da beleza, do mundo e das coisas do mundo.
(Perdão, o texto ficou grande!!!!)


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