sexta-feira, 30 de maio de 2008

Plano Colômbia: Um pacto anti-nacional !




O Plano Colômbia surgiu como um pacto internacional entre dois Estados - Colômbia e Estados Unidos, o destaque é que a sociedade civil organizada em torno de organismos infra-nacionais de ambos Estados questionam a legitimidade deste acordo. Intelectuais, políticos progressistas, partidos políticos, sindicatos e organismos não governamentais questionam sua legitimidade. No plano internacional ele tampouco possui alguma popularidade, a comunidade internacional já declarou seu desconforto com uma intervenção direta na Colômbia e com a presença de conselheiros militares dos EUA em território estrangeiro.
Este plano sustenta uma prática que demonstra o desejo não de uma Colômbia sem guerrilhas, mas de uma Colômbia sem organizações infra nacionais (sindicatos, partidos de oposição, organização de direitos humanos e etc.) autônomas e democráticas. Uma Colômbia sem margem de manobra para desenvolver uma política produzida a partir da idiossincrasia de seu povo. A função do Plano Colômbia é o de liquidar qualquer agente que inviabilize ou tente inviabilizar a Colômbia dos sonhos da oligarquia que assassinou Gaitan e dos agentes externos que impõem um plano estranho aos interesses dos próprios colombianos.
Enfim, o colombiano vive hoje em um Estado de guerra, vítimas em todos os campos da sociedade, o colombiano sofre tanto nas mãos de grupos para-militares ilegais como na batuta de um exército pouco comprometido com a estabilidade e a segurança civil. A manutenção de uma guerra infinita nascida no berço da miséria e fadada a viver na miséria interessa a grupos internos , enquanto não re-pactuarem uma saída pacífica, com liberdade política e justiça social a Colômbia será palco de violência generalizada.
No campo dos grupos infra-nacionais existe uma divisão clara no diagnóstico e na ação interna, até porque a superação do atual status quo implicaria no fim de tais grupos: o narcotráfico e as organizações para-militrares. O atual Estado colombiano vai a reboque de alguns grupos infra-nacionais, pois nasce na declaração de guerra de um setor da sociedade civil colombiana e, necessita da guerra para manter-se como Estado. A paz, a democratização política e das riquezas nacionais implicaria necessariamente na construção de um novo Estado colombiano sob um novo pacto.
A preocupação com a Colômbia hoje é um imperativo, pois, a atual guerra é declarada contra povos originários da região amazônica, contra a biodiversidade colombiana(afetando toda região amazônica, inclusive a brasileira) e contra os direitos humanos. Enfim, as preocupações e ações concretas passam por vários campos demonstrando o caráter nefasto do Plano Colômbia. Além de ser um motivador de instabilidade internacional, causando conflitos de diversas naturezas na América amazônica e andina.
Não existe um único país da Europa ou das Américas que apóia o Plano Colômbia, até mesmo a ONU apontava organizações como as FARC-EP (Forças Armadas Revolucionárias Colombianas – Exército do Povo) ou ELN (Exército de Libertação Nacional) como forças beligerantes, ou seja, a saída de uma nova Colômbia deve ser negociada, respeitando as forças populares e as organizações civis organizadas, a intensificação da guerra é lenha ao fogo maldito que massacra um povo. É consenso entre todos os agentes no campo internacional a necessidade de uma saída negociada com todos os setores da Colômbia. É preciso dar um basta na truculência do governo Uribe, a comunidade internacional deve repudiar as ações violentas e anti-democráticas deste governo, Uribe põe em risco a estabilidade da América do Sul e massacra seu povo. O repúdio internacional é um imperativo!

terça-feira, 27 de maio de 2008

Fragmentos de minha infância....


Festa de Batismo dos Tambores Construídos na Oficina "Tambores de Brotas"



Vamos comemorar o encerramento da primeira fase do projeto " Tambores de Brotas" !!!


Para marcar o encerramento da primeira fase do projeto “Tambores de Brotas”, realizado com recursos do Programa de Ação Cultural (PAC no.6) da Secretaria de Estado da Cultura de São Paulo, será realizada uma festa na Comunidade de Remanescentes Quilombolas de Brotas, no município de Itatiba/SP, com participações de dois grupos praticantes de manifestações culturais tradicionais afro-brasileiras; o Jongo e o Batuque de Umbigada.
Esta comemoração se dará no dia 07 de Junho a partir das 20h, à Rua Filomena Zupardo, 795, Jd. Santa Filomena, Itatiba/SP e contará com a participação da Comunidade de Jongo de Guaratinguetá (Grupo Quilombola) e do Grupo de Batuque de Umbigada de Piracicaba, Tietê e Capivari.Você é nosso convidado.
Entrada: 1kg de alimento
Para chegar no Quilombo siga o Roteiro abaixo ou utilize o mapa .Att.,Comunidade Quilombola Brotas e Grupo Baobá Saindo de SÃO PAULO
1 - Pegar Rod. Anhanguera até a Saída 61 (Placa para Itatiba)ü Pegar Saída 61 da Rod. Anhanguera e seguir em Frente pela Rod. João Cereser durante 5km.
2 - Chegando na rotatória, fazer retorno a esquerda (Placa para Itatiba) e seguir a pela Rod. Eng. Constancio Cintra durante 18km até a entrada de Itatiba.
Em ITATIBA
3- Chegando pela Rod. Eng. Constancio Cintra seguir em frente na rotatória pela Av. 29 de Abril por 900mts.ü Em seguida virar à direita na Rua Cel.Camilo Pires e seguir em frente por 300mts.
4 - Virar à esquerda na a Rua Com. Franco e seguir em frente por 200mts.ü Virar à esquerda na Rua Expedicionários Brasileiros e seguir em frente por 1000mts.
5 - Continuar pela Rua Benedito Alves B.Sobrinho por 350mts.ü Passar em Frente ao Supermercado Tulon (A esquerda) e Posto de Gasolina (A direita) chegando na rotatória.
6 - Virar a esquerda na Rua Filomena Zupardo.
7 - Seguir em frente até o final da rua.
Boa festa!

O papel do dedo indicador na luta de classes!


segunda-feira, 26 de maio de 2008

Uma música ideal na segunda-feira: Disney, Ary Barroso e Zequinha de Abreu (Aquarela do Brasil)

Lançamento do personagem brasileiro Joe Carioca, ou Zé Carioca, em finos traços,Disney nos mostra uma reinvenção do brasilianismo. Um Brasil idealizado, mágico, uma visão do paraíso, samba, bebidas e belas paisagens. Embora, este belo desenho cometa o mesmo pecado da Bossa Nova(se é que isto mereça um comentário), isto segundo Marcelo D2: é aquele desenho que fica de frente para o mar e de costas para a favela. Mas vamos perdoar, o desenho é muito bom e, reparem no detalhe dos instrumentos, o tamborim é quadrado, o bom exemplo da velha escola do samba. Ary Barroso e Zequinha de Abreu estão fantásticos, inspirados e acompanhados por um desenho encantado, um desenho que conduzido pelo "barulho que pensa" de nossa terra, nos faz - que seja por alguns míseros segundos - esquecer do Brasil das profundas e traumáticas contradições. Assistam, é um desenho fabuloso!

domingo, 25 de maio de 2008

Blog do "Se": Impressões sobre o Dia do Orgulho Gay


Um carnaval fora de época, festa, plumas e paitês. Nada contra a alegria, muito pelo contrário, a alegria subverte o reino da tristeza do capital. Porém, transformaram um dia de pensar em direitos civis em um espetáculo mercantil, alegre, mas mercantil. O trio-elétrico mais animado, a roupa mais brilhante, a fantasia do herói mais hype, ansiosos pelos segundos de fama em fotos, matérias e capas. Isto sem considerar aqueles que decidem marchar no colorido dominical da mesma maneira que decidem ir ao zoológico... Bom, esta é a impressão que tive, mesmo sem ter participado, se estiver errado que me corrijam!

O Dia do Orgulho Gay que tiro o chapéu é aquele que assume as ruas de São Paulo como um palco de debate com o conjunto da sociedade, é aquele que propõe para a sociedade brasileira a criminalização da homofobia, é aquele que discute a união civil homosexual. Politizar a vontade de amor e liberdade é fundamental para que o Orgulho Gay não seja consentido apenas por um dia. Uma espécie de prêmio de consolação da oligarquia homofóbica, lembremos, no sábado (24 de maio), a Polícia Militar cavalgou na Av. Paulista com roupinhas da TFP (Tradição, Família e Propriedade), uma provocação ridícula e anacrônica. A origem do Dia do Orgulho Gay nos remete a luta, a resistência de Gays que não aceitaram a violência em todas as suas formas, decididos, ocuparam as ruas de São Franciso, Estados Unidos, contra a violência policial que a comunidade gay sofria nos idos anos de 70. Ou seja, a memória e a história são fortes aliados dos oprimidos, a comunidade Gay possue força e possibilidade de assumir este dia como um dia de debate e, que não mais seja um dia o dia do orgulho gay, mas que os gays tenham orgulho todos os dias do ano. Uma saudação (de um hetero) aos Gays, lésbicas, travestis e transexuais. Viva a solidariedade, a alegria, a luta e que possamos construir um mundo que caiba diversos mundos.

Mais polêmicas sobre 1968: O PCI aos jovens! - Pasolini


O PCI aos jovens! (Notas em verso para um poema em prosa), Pier Paolo Pasolini
(trechos)



Sinto muito. A polêmica contra o PCI tinha que ser feita na primeira metade da década passada. Vocês meus filhos, estão atrasados. E não importa que vocês não tivessem ainda nascido...Agora os jornalistas do mundo inteiro (inclusive os da televisão)ficam puxando (como acho que ainda se diz na linguagem das universidades) o saco de vocês. Eu não, meus amigos.Vocês têm cara de filhos de papai. Odeio vocês como odeio seus pais. Filho de peixinho, peixinho é. Vocês têm o mesmo olhar maligno. São medrosos, inseguros, desesperados(ótimo!), mas também sabem como ser prepotentes, chantagistas, convencidos, descarados: prerrogativas pequeno-burguesas, meus amigos. Ontem no Valle Giulia, quando vocês brigavam com os policiais,eu simpatizava com os policiais! Porque os policiais são filhos de gente pobre.Vêm das periferias, rurais ou urbanas que sejam. Quanto a mim, conheço muito bem seu jeito de terem sido crianças e rapazes, as preciosas mil liras, o pai que também continuou sendo um rapaz, por causa da miséria, que não confere autoridade. A mãe calejada como um carregador, ou delicada, devido a alguma doença, como um passarinho; os irmãos todos;(...)

E depois vejam como os vestem: como palhaços,com aquele pano grosseiro que fede a rancho,caserna e povo. O pior de tudo, naturalmente, é o estado psicológico a que são reduzidos(por umas quarenta mil liras ao mês): nem um sorriso mais, nem amizade alguma com o mundo, separados, excluídos (numa exclusão que não tem igual); humilhados pela perda da qualidade de homens em troca da de policiais (ser odiado faz odiar).Têm vinte anos, a idade de vocês, meus caros e minhas caras. Estamos obviamente de acordo contra a instituição da polícia. Mas voltem-se contra a Magistratura, e vocês vão ver! Os jovens policiais que vocês por puro vandalismo (de nobre tradição herdada do Risorgimento) de filhos de papai, espancaram pertencem a outra classe social. No Valle Giulia, ontem, tivemos assim um fragmento de luta de classes: e vocês, meus amigos (embora do lado da razão) eram os ricos, enquanto os policiais (que estavam do lado errado) eram os pobres. Bela vitória, portanto, a de vocês! Nestes casos, aos policiais se dão flores, meus amigos. Popolo e Corriere della Sera, Newsweek e MondePuxam o saco de vocês. Vocês são os filhos deles,a sua esperança, o seu futuro...(...)

É isso, caros filhos, que vocês sabem. E que aplicam através de dois sentimentos irrevogáveis: a consciência dos seus direitos (como se sabe a democraciasó leva em conta vocês) e a aspiração ao poder. Sim, as suas palavras de ordem versam sempre sobre a tomada do poder.

(...)Vocês ocupam as universidades,mas suponham que a mesma idéia ocorra a jovens operários. Nesse caso,o Corriere delle Sera e Popolo, Newsweek e Monde procurariam com a mesma solicitude compreender os problemas deles? A polícia se limitaria a levar umas pancadas dentro de uma fábrica ocupada? Trata-se de uma observação banal; e constrangedora. Mas sobretudo inútil: porque vocês são burguesese portanto anticomunistas...

(...)Falando assim,vocês pedem tudo com palavras,ao passo que com os atos, vocês pedem só aquilo a que têm direito (como bons filhos da burguesia que são):uma série de reformas inadiáveis a aplicação de novos métodos pedagógicos e a renovação de um organismo estatal. Bravo! Que nobres sentimentos! Que a boa estrela da burguesia proteja vocês!(...)

quarta-feira, 21 de maio de 2008

Nostalgia do Democrático-nacional!!!

Ai, se o Lula fosse assim, que bom seria!Vejam só, não é pedir muito!

terça-feira, 20 de maio de 2008

Revendo a Batalha de Argel de Gillo Pontecorvo

...um dia após o massacre no bairro árabe...

Tenente-Coronel: Ontem, saiu alguma coisa em Paris?

Jornalista: Somente um texto do Sartre!

Tenente-Coronel: Por que os Sartres sempre nascem do outro lado?


terça-feira, 13 de maio de 2008

1968, simplesmente um ano que acabou faz tempo?



Nossa, tanto bafafá, exposições a torto e a direito, programas de TV, lançamentos de livros, comemorações e muitos souvenires, rebeldes mercadorias ao gosto do freguês. Todo mundo querendo tirar uma casquinha do glorioso ano de 1968, o ano em que os neoliberais de hoje estavam sofrendo do amargo gosto do caviar do exílio, o ano que até maoísta parecia ser progressista, este é o ano que me faz lembrar de um trecho do Memorias Del Subdesarollo, um excelente filme cubano, mais precisamente uma frase citada no filme: “Meu sonho era ser comunista em Paris!”
O ano daqueles que gostam de repetir que quem não é comunista aos vinte anos não tem coração e, quem continua sendo depois dos trinta não tem cérebro. O ano da rebeldia – da rebeldia que virou rebeldia consentida – afinal de contas, a indústria fonográfica ganha alguns bons milhões de dólares com o rebelde Rock, a Levis ganha com o ousado bluejeans. O narcotráfico que apóia os governos mais conservadores da América Latina, como o caso do truculento Uribe, ganha uma fortuna, perdendo em taxa de lucro somente para a indústria bélica, com a “subversiva” maconha e os “libertários” narcóticos em geral.
O discursinho do É Proibido Proibir virou o discursinho da metacrítica conservadora, do playboy ás avessas, o pequeno-burguês bonito e intelectualizado – freqüentador das rodinhas de samba, do folclore em geral, adora se masturbar no ombro do explorado do século XIX. Transforma manifestações populares em Disneylândia para o povo deste lado da ponte. Esquecem que a abolição transformou um contingente maior da população em explorados e oprimidos, trabalhadores livres do meio de produção – brancos e negros pobres.
Os filhos de 1968 tornaram-se o qualquer coisa pós-moderno com culpa, são os bons moços do proto-engajamento ongueiro e egoísta. Os pais de 1968 são homens e mulheres que ajudaram a promover retrocessos históricos criminosos, são os neoliberais com capa e culpa de intelectual orgânico da conservação do “meio-ambiente” e do status quo.
Os heróis de 1968 são os heróis de qualquer outro ano, são as figuras anônimas, são aqueles que fazem história, embora não necessariamente saibam disto. Mas aqui entra outra frase feita, triste é o povo que precisa de heróis. A grande questão deste texto - se é que este texto levanta uma grande questão, ou alguma questão relevante – existiram dois 1968: O 1968 de luta, de marchas, de manifestações que se somam na eterna luta da humanidade na busca de sua emancipação e, o 1968 dos museus, daqueles que resumem tudo em uma manifestação de contra-cultura, criando espaço para um novo tipo de mercadoria. O 1968 unidade contraditória de valor de uso( espiritual e punheteiro) e, o valor de troca – “deixe um artista feliz” – é repugnante, fere a memória daqueles que tombaram nas legítimas lutas do povo. O 1968 que merece ser lembrado é apenas mais uma pedrinha no grande mosaico que é a luta de libertação da humanidade. Por último, vamos lembrar as barricadas da Comuna de Paris (1871) e o grito que ecoava nas trincheiras do povo: Estamos aqui pela humanidade!! Muito mais do que pela calça Jeans, pois se não for starup proteste!

quinta-feira, 8 de maio de 2008

As Armas e o Povo




Documentário inédito de Glauber, trechos no primeiro de maio, em uma Lisboa que sentia ainda o perfume de liberdade dos Cravos. Soldados, operários, donas de casa, estudantes e intelectuais sob o olhar de Glauber. Divirtam-se!

terça-feira, 6 de maio de 2008

Justiça absolve fazendeiro por morte de Dorothy Stang: Refundar a República!!




Em 12 de fevereiro de 2005, na cidade de Anapú, Pará, a missionário Dorothy Stang foi cruelmente assassinada. Hoje, o Juiz Raimundo José Flecha absolveu - por maioria de votos - o latifundiário Vitalmiro Bastos Moura de co-autoria pelo homicídio qualificado da irmã. Eduardo Imbira e Paulo Dias -advogados de defesa do latifundiário - postularam que o o crime contra a irmã foi um ato isolado, praticado somente pelo pistoleiro Rayfran das Neves.
Rayfran confessou os disparos, os jurados confirmaram o homicídio qualificado, porém, rejeitaram a qualificadora que foi crime cometido mediante recompensa. Rayfran, o outro pobre da história, foi condenado a 28 anos de prisão.
O promotor de justiça informou que se manifestará dentro do prazo legal. Segundo o promotor, Estado democrático é assim, seria bom lembrarmos, que este mesmo promotor está sendo ameaçado de morte.No depoimento de ontem o outro acusado e condenado, o Tato - Amair Feijoli da Cunha - negou o seu próprio depoimento anterior, agora absolvendo o fazendeiro Vitalmiro Moura. As ameaças ao promotor surgiram há cerca de um ano, quando ele iniciou um processo contra o latifundiário Vitalmiro Moura, contratante de Rayfran, no primeiro depoimento de Tato (condenado a trinta anos de prisão) ele acusa o fazendeiro Vitalmiro de ter premiado os dois pistoleiros com a quantia de R$ 50 mil por prestarem o serviço de matar a irmã. Mas ontem, o Tato deu um novo depoimento contraditório ao primeiro, desta vez absolvendo o Vitalmiro Moura.
Enfim, é inaceitável mais um caso de impunidade, a justiça brasileira precisa passar por uma revolução republicana, os condenados históricos de nossa justiça: os pobres, os negros e os trabalhadores. Crimes contra os lutadores sociais merecem receber agravantes, o futuro de nossa democracia depende da ação dos lutadores do povo e dos movimentos sociais. Nossa democracia está em construção, o aprofundamento democrático é construído através da democratização da política e do econômico.
Sem a contribuição destes protagonistas a democracia viva e participativa padecerá, será mera alegoria jurídica de manutenção da ordem da desigualdade, da ordem da fome, da ordem de uma estrutura especialista em criar os sem nada.
A não punição dos mandantes do homicídio da irmã Dorothy é um desfavor a democracia, é um incentivo a novos crimes contra os lutadores do povo e fortalece a descrença neste modelo e nesta forma, nos dá a sensação que é um imperativo refundar a república e construir uma nova democracia, marcada pelos interesses nacionais e populares.
Nos falta o homem-medida de Protágoras, ainda estamos na propriedade-medida de todas as coisas, superar o egoísmo e controlar as paixões - vamos visitar a República de Platão. O destino das pessoas está ligado ao destino da República, preservar a integridade das pessoas é preservar a integridade de nossa República. A vida está acima de todas as coisas, este é o principal valor da República que queremos.

sexta-feira, 2 de maio de 2008

O que será que Otávio está pensando do "companheiro" Lula?




Falo de Otávio, operário, sindicalista classista, pai de Chiquinho e do Tião, casado com Romana e morador da Brasilândia . Herói anônimo, mas sua história se confunde com a história recente do Brasil. Nos anos 70 foi preso por militar na oposição metalúrgica, nos anos 80 panfletava e organizava o movimento, de vez em quando tomava "uminha" no bar do palmeirense, pessoa de vida e hábitos simples. Alguém lembra de Otávio? Aquele personagem que se confunde também com seu autor e ator, confunde fundindo a história de Guarnieri e Otávio, que poderia chamar João, José, Pedro e Raimundo. Otávio é daqueles que produzem a riqueza do Brasil, aqueles milhões de heróis anônimos, pessoas que não sonham muito, sonham com um pouco de dignidade, sonham com justiça social, sonham um sonho que não é egoísta, sonham com o sucesso da polis o sucesso da República, de todos e para todos. Pois bem, existem os Tiãos, vivem a mesma vida dos Otávios, mas pensam diferente dos Otávios, são aqueles que não querem liberdade, querem escravizar também. O Tião - filho de Otávio - para alguns companheiros do sindicato é o Tião fura-greve, para outros o Tião espião e pelego. Como diria o exaltado Italiano - companheiro de fábrica de Otávio - "O Tião olha só para o próprio umbigo!" Mas não perderei meu tempo com os Tiãos. Queria saber o que Otávio está pensando do governo do companheiro Lula, imaginar Santo-Dias, sangue operário manchou nossa história, o sangue do trabalho sangrou também para eleger o "companheiro" Lula. Otávio está sumido, uns dizem que depois que se aposentou resolveu ficar mais perto de Romana, outros dizem que morreu junto com Guarnieri. Um dia destes um companheiro de sindicato disse que Otávio morreu do coração quando escutou o "companheiro" Lula chamando latifundiário dos heróis do Brasil. Bom, isto eu não sei se é verdade, mas juro que gostaria de escutar aquilo que Otávio está pensando deste governo. O que será que Otávio está pensando do "companheiro" Lula?

Manifesto de Maio - Luiz Carlos Prestes





Aos guerreiros de maio!

Viva o 1º maio!


Manifesto de Maio
Luiz Carlos Prestes
Maio de 1930

Primeira Edição: Diário da Noite, São Paulo, 2ª edição, 29/05/1930.Fonte: PRESTES, Anita Leocádia, A Coluna Prestes.




Ao proletariado sofredor das nossas cidades, aos trabalhadores oprimidos das fazendas e das estâncias, à massa miserável do nosso sertão e muito especialmente aos revolucionários sinceros, aos que estão dispostos à luta e ao sacrifício em prol da profunda transformação por que necessitamos passar, são dirigidas estas linhas.
Despidas de quaisquer veleidades retóricas, foram elas escritas com o objetivo principal de esclarecer e precisar a minha opinião a respeito do momento revolucionário brasileiro, e mostrar a necessidade de uma completa modificação na orientação política que temos seguido, a fim de podermos alcançar a vitória almejada.
A última campanha política acaba de encerrar-se. Mais uma farsa eleitoral, metódica e cuidadosamente preparada pelos politiqueiros, foi levada a efeito com o concurso ingênuo de muitos e de grande número de sonhadores ainda não convencidos da inutilidade de tais esforços.
Mais uma vez os verdadeiros interesses populares foram sacrificados e vilmente mistificado todo o povo, por uma campanha aparentemente democrática, mas que no fundo não era mais do que a luta entre os interesses contrários de duas correntes oligárquicas, apoiadas e estimuladas pelos dois grandes imperialismos que nos escravizam, e aos quais os politiqueiros brasileiros entregam, de pés e mãos atados, toda a Nação.
Fazendo tais afirmações, não posso, no entanto, deixar de reconhecer entre os elementos da Aliança Liberal grande número de revolucionários sinceros, com os quais creio poder continuar a contar na luta franca e decidida que ora proponho a todos os opressores.
É bem verdade que, em parte por omissão e em parte por indecisão, fomos também cúmplices da grande mistificação. Silenciamos, enquanto os liberais de todos os matizes e categorias, dos da primeira aos da última hora, abusaram sempre do nome da revolução e particularmente do dos seus chefes. Houve quem afirmasse, de uma tribuna pública, apoiar politicamente os liberais por ordem de seus chefes revolucionários. Não foi desmentido. A caravana política do Norte do País, para melhor aproveitar do profundo espírito revolucionário dos mais sofredores dos nossos irmãos, os nordestinos, fez toda a sua propaganda em torno da revolução e, no entanto, era um dos seus membros de destaque o atual diretor da "Federação", órgão que traduz e melhor interpreta os pensamentos dos reacionários do sul.
Apesar de toda essa demagogia revolucionária e de dizerem os liberais propugnarem pela revogação das últimas leis de opressão, não houve, dentro da Aliança Liberal, quem protestasse contra a brutal perseguição política de que foram vítimas as associações proletárias de todo o País, durante a última campanha eleitoral, e no próprio Rio Grande do Sul, em plena fase eleitoral, foi iniciada a mais violenta perseguição aos trabalhadores em luta por suas próprias reivindicações. São idênticos os propósitos reacionários das oligarquias em luta.
A tudo assistimos calados, sacrificando o prestígio moral da revolução, sempre crentes no milagre que seria a eventualidade de uma luta armada entre as duas correntes em choque e que, desta luta entre os dois interesses, pudesse talvez surgir a terceira corrente, aquela que viesse satisfazer realmente as grandes necessidades de um povo empobrecido, sacrificado e oprimido por meia dúzia de senhores, que, proprietários da terra e dos meios de produção, se julgam a elite capaz de dirigir um povo de analfabetos e desfibrados, na opinião deles, e dos seus sociólogos de encomenda.
De qualquer forma, o erro foi cometido e é dele que nos devemos penitenciar publicamente, procurando, com toda a clareza e sem receios de qualquer ordem, qual o verdadeiro caminho a seguir para levar para diante a bandeira revolucionária, que hoje — mais do que nunca — precisamos sustentar. Sirva-nos para alguma coisa a experiência adquirida e dediquemo-nos, com coragem, convicção e real espírito de sacrifício, à luta pelas verdadeiras reivindicações da massa oprimida.
A revolução brasileira não pode ser feita com o programa anódino da Aliança Liberal. Uma simples mudança de homens, um voto secreto, promessas de liberdade eleitoral, de honestidade administrativa, de respeito à Constituição e moeda estável e outras panacéias, nada resolvem, nem podem de maneira alguma interessar à grande maioria da nossa população, sem o apoio da qual qualquer revolução que se faça terá o caráter de uma simples luta entre as oligarquias dominantes.
Não nos enganemos. Somos governados por uma minoria que, proprietária das terras, das fazendas e latifúndios e senhora dos meios de produção e apoiada nos imperialismos estrangeiros que nos exploram e nos dividem, só será dominada pela verdadeira insurreição generalizada, pelo levantamento consciente das mais vastas massas das nossas populações dos sertões e das cidades.
Contra as duas vigas-mestras que sustentam economicamente os atuais oligarcas, precisam, pois, ser dirigidos os nossos golpes — a grande propriedade territorial e o imperialismo anglo-americano. Essas as duas causas fundamentais da opressão política em que vivemos e das crises econômicas sucessivas em que nos debatemos.
O Brasil vive sufocado pelo latifúndio, pelo regime feudal da propriedade agrária, onde se já não há propriamente o braço escravo, o que persiste é um regime de semi-escravidão e semi-servidão.
O governo dos coronéis, chefes políticos, donos da terra, só pode ser o que ai temos: opressão política e exploração impositiva.
Toda a ação governamental, política e administrativa, gira em torno dos interesses de tais senhores que não medem recursos na defesa de seus privilégios. De tal regime decorrem quase todos os nossos males. Querer remediá-los pelo voto secreto ou pelo ensino obrigatório é ingenuidade de quem não quer ver a realidade nacional.
É irrisório falar em liberdade eleitoral, quando não há independência econômica, como de educação popular, quando se quer explorar o povo. Vivemos sob o jugo dos banqueiros de Londres e Nova Iorque.
Todas as nossas fontes de renda dependem do capitalismo inglês ou americano, em cujo poder estão também os mais importantes serviços públicos, os transportes e as indústrias em geral. Os próprios latifúndios vão passando, aos poucos, para as mãos do capitalismo estrangeiro.
A eles já pertencem as nossas grandes reservas de minério de ferro do Estado de Minas Gerais, extensas porções territoriais do Amazonas e do Pará, onde talvez estejam os nossos depósitos petrolíferos.
Todas as rendas nacionais estão oneradas pelos empréstimos estrangeiros.
Dessa dependência financeira decorre naturalmente um regime de exploração semifeudal, em que se desenvolve toda a nossa economia.
Os capitais estrangeiros investidos na nossa produção provocam um crescimento monstruoso em nossa vida econômica, tendente exclusivamente à exploração das riquezas naturais, das fontes de matérias-primas, reservado o mercado nacional para a colocação dos produtos fabricados nas metrópoles imperialistas.
A atividade desse capital só pode, portanto, ser prejudicial ao País. Dessa forma, todo o esforço nacional, todo o nosso trabalho é canalizado para o exterior.
Por outro lado, a luta evidente pelo predomínio econômico entre os dois imperialismos, que nos subjugam e colonizam, prepara, com o auxílio do nosso governo "nacionalista" e "patriota", o esfacelamento da nação.
A verdadeira luta pela independência nacional deve, portanto, realizar-se contra os grandes senhores da Inglaterra e contra o imperialismo e só poderá ser levada a efeito pela verdadeira insurreição nacional de todos os trabalhadores.
As possibilidades atuais de tal revolução são as melhores possíveis.
A crise econômica que atravessamos, apesar dos anunciados saldos orçamentários e da proclamada estabilidade monetária, é incontestável. Os impostos aumentam, elevam-se os preços dos artigos de primeira necessidade e baixam os salários. A única solução encontrada pelos governos, dentro das contradições do regime em que se debatem, são os empréstimos externos com uma maior exploração da nossa massa trabalhadora e conseqüente agravação da opressão política. A situação internacional é, por outra parte, de grandes dificuldades para os capitalismos que nos dominam, a braços com os mais sérios problemas internos, como o da desocupação de grandes massas trabalhadoras e as insurreições nacionalistas de suas colônias.
Além disso, o Brasil, pelas suas naturais riquezas, pela fertilidade de seu solo, pela sua extensão territorial, pelas possibilidades de um rápido desenvolvimento industrial autônomo, está em condições vantajosíssimas para vencer, com relativa rapidez, nesta luta pela sua verdadeira e real emancipação.
Para sustentar as reivindicações da revolução que propomos — única que julgamos útil aos interesses nacionais — o governo a surgir precisará ser realizado pelas verdadeiras massas trabalhadoras das cidades e dos sertões. Um governo capaz de garantir todas as mais necessárias e indispensáveis reivindicações sociais: limitação das horas de trabalho, proteção ao trabalho das mulheres e crianças, seguros contra acidentes, o desemprego, a velhice, a invalidez e a doença, direito de greve, de reunião e de organização.
Só um governo de todos os trabalhadores, baseado nos conselhos de trabalhadores da cidade e do campo, soldados e marinheiros, poderá cumprir tal programa.
A vitória da revolução, em tal momento, mais depende da segurança com que orientarmos a luta, do que das resistências que nos possam ser opostas pelos dominadores atuais, em franca desorganização e inepta-mente dirigidos.
Proclamemos, portanto, a revolução agrária e antiimperialista realizada e sustentada pelas grandes massas da nossa população.
Lutemos pela completa libertação dos trabalhadores agrícolas de todas as formas de exploração feudais e coloniais, pela confiscação, nacionalização e divisão das terras, pela entrega da terra gratuitamente aos que trabalham. Pela libertação do Brasil do jugo do imperialismo, pela confiscação e nacionalização das empresas nacionalistas [sic] de latifúndios, concessões, vias de comunicações, serviços públicos, minas, bancos e anulação das dívidas externas.
Pela instituição de um governo realmente surgido dos trabalhadores das cidades e das fazendas, em completo entendimento com os movimentos revolucionários antiimperialistas dos países latino-americanos e capaz de esmagar os privilégios dos atuais dominadores e sustentar as reivindicações revolucionárias.
Assim, venceremos.
Luiz Carlos Prestes
Buenos Aires, maio de 1930.


Fonte: Diário da Noite, São Paulo, 2* edição, 29/5/1930. Apud BASTOS,. Abguar. Prestes e a Revolução Social. R. J., Ed. Calvino, J946, pp. 225-229.