domingo, 25 de maio de 2008

Mais polêmicas sobre 1968: O PCI aos jovens! - Pasolini


O PCI aos jovens! (Notas em verso para um poema em prosa), Pier Paolo Pasolini
(trechos)



Sinto muito. A polêmica contra o PCI tinha que ser feita na primeira metade da década passada. Vocês meus filhos, estão atrasados. E não importa que vocês não tivessem ainda nascido...Agora os jornalistas do mundo inteiro (inclusive os da televisão)ficam puxando (como acho que ainda se diz na linguagem das universidades) o saco de vocês. Eu não, meus amigos.Vocês têm cara de filhos de papai. Odeio vocês como odeio seus pais. Filho de peixinho, peixinho é. Vocês têm o mesmo olhar maligno. São medrosos, inseguros, desesperados(ótimo!), mas também sabem como ser prepotentes, chantagistas, convencidos, descarados: prerrogativas pequeno-burguesas, meus amigos. Ontem no Valle Giulia, quando vocês brigavam com os policiais,eu simpatizava com os policiais! Porque os policiais são filhos de gente pobre.Vêm das periferias, rurais ou urbanas que sejam. Quanto a mim, conheço muito bem seu jeito de terem sido crianças e rapazes, as preciosas mil liras, o pai que também continuou sendo um rapaz, por causa da miséria, que não confere autoridade. A mãe calejada como um carregador, ou delicada, devido a alguma doença, como um passarinho; os irmãos todos;(...)

E depois vejam como os vestem: como palhaços,com aquele pano grosseiro que fede a rancho,caserna e povo. O pior de tudo, naturalmente, é o estado psicológico a que são reduzidos(por umas quarenta mil liras ao mês): nem um sorriso mais, nem amizade alguma com o mundo, separados, excluídos (numa exclusão que não tem igual); humilhados pela perda da qualidade de homens em troca da de policiais (ser odiado faz odiar).Têm vinte anos, a idade de vocês, meus caros e minhas caras. Estamos obviamente de acordo contra a instituição da polícia. Mas voltem-se contra a Magistratura, e vocês vão ver! Os jovens policiais que vocês por puro vandalismo (de nobre tradição herdada do Risorgimento) de filhos de papai, espancaram pertencem a outra classe social. No Valle Giulia, ontem, tivemos assim um fragmento de luta de classes: e vocês, meus amigos (embora do lado da razão) eram os ricos, enquanto os policiais (que estavam do lado errado) eram os pobres. Bela vitória, portanto, a de vocês! Nestes casos, aos policiais se dão flores, meus amigos. Popolo e Corriere della Sera, Newsweek e MondePuxam o saco de vocês. Vocês são os filhos deles,a sua esperança, o seu futuro...(...)

É isso, caros filhos, que vocês sabem. E que aplicam através de dois sentimentos irrevogáveis: a consciência dos seus direitos (como se sabe a democraciasó leva em conta vocês) e a aspiração ao poder. Sim, as suas palavras de ordem versam sempre sobre a tomada do poder.

(...)Vocês ocupam as universidades,mas suponham que a mesma idéia ocorra a jovens operários. Nesse caso,o Corriere delle Sera e Popolo, Newsweek e Monde procurariam com a mesma solicitude compreender os problemas deles? A polícia se limitaria a levar umas pancadas dentro de uma fábrica ocupada? Trata-se de uma observação banal; e constrangedora. Mas sobretudo inútil: porque vocês são burguesese portanto anticomunistas...

(...)Falando assim,vocês pedem tudo com palavras,ao passo que com os atos, vocês pedem só aquilo a que têm direito (como bons filhos da burguesia que são):uma série de reformas inadiáveis a aplicação de novos métodos pedagógicos e a renovação de um organismo estatal. Bravo! Que nobres sentimentos! Que a boa estrela da burguesia proteja vocês!(...)

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