quarta-feira, 9 de abril de 2008

Polêmicas em torno da indenização de Ziraldo e Jaguar:Você deve alguma coisa para o Ziraldo ou para o Jaguar?

Dezoito jornalistas, mais os cartunistas Ziraldo e Jaguar foram indenizados por sofrerem perseguição política nos anos de chumbo do Brasil. Receberam a significativa quantia de quase R$ 1.000.000,00(um milhão de reais), além de uma prestação contínua de quase R$ 4.500,00(quatro mil e quinhentos reais) mensais. É bom lembrarmos, estes são os valores mais altos calculados pela comissão de anistia. Bom, tal evento trouxe a tona o debate sobre a legitimidade destas indenizações. Alguns setores da sociedade brasileira colocam-se inconformados com a decisão da justiça brasileira e, perguntam: Você deve alguma coisa para o Ziraldo ou para o Jaguar?
Tentarei responder esta pergunta. Antes de tudo, é bom esclarecermos que existem as vítimas diretas e indiretas do criminoso golpe de 1964. As indiretas são milhões de homens e mulheres, filhos do povo trabalhador do Brasil, aqueles que amargaram o gosto do desenvolvimento interrompido. Os brasileiros privados da reforma agrária, privados de uma reforma tributária que reorganizasse a distribuição de renda no Brasil e etc. Do outro lado, as vítimas diretas, pessoas decididas a denunciar o pacto das grandes elites do Brasil com o imperialismo, estes sofreram inúmeras perseguições, insegurança constante, instabilidade em empregos, esta a melhor hipótese, ou aqueles que foram vítimas de crimes hediondos: tortura e exílio.
Acho que podemos separar aquela pergunta em duas, ou seja, a primeira: É legítima uma indenização? A segunda: A quantia recebida é justa ou exagerada? Respondendo a primeira pergunta, não tenho a menor dúvida de que o Estado brasileiro possui a obrigação de reparar crimes cometidos pelo próprio Estado, logo, acho justa e legítima as indenizações pagas aos perseguidos pelo regime militar. Quanto à segunda pergunta, realmente fico na dúvida, a priori, não tenho uma posição, me dou o direito da dúvida.
Porém, a própria história recente do Brasil justifica e de alguma maneira torna mais aceitável a indenização para aqueles que gostam de lavar as mãos e, perguntar, Você deve alguma coisa para o Ziraldo ou para o Jaguar? Sigo esta linha de raciocínio para chegar até o Proer (Programa de Estímulo à Reestruturação e ao Fortalecimento do sistema financeiro Nacional), em outras palavras, Bolsa Banqueiro mal sucedido em especulação, ironia á parte e, com corte de classe. Vejam só, de 1995 até 2000 o governo federal repassou algo em torno de R$ 30 (trinta) bilhões de reais aos banqueiros, em preços de 1995, na época representou 2,5% de nosso PIB.
Vamos imaginar um cenário em que ás três mil vítimas diretas da ditadura ganhassem uma indenização semelhante, em outras palavras, o governo brasileiro desembolsaria dos cofres públicos R$ 3 bilhões de reais, em preço de 2008. Se compararmos as quantias, mesmo sem colocarmos na mesma base de preço, ainda assim o Proer significaria dez vezes mais do que as justas indenizações na forma – repito – duvidosas no valor. Mas ainda assim, justas!
Meus amigos, agora eu pergunto: A quem o Brasil deve? Quem fez mais pelo Brasil, o Banco Pontual, Bamerindus ou os bravos e destacados brasileiros que deram o melhor de sua vida por um Brasil justo, livre e soberano?

3 comentários:

Helena disse...

Aceito o desafio:
Não compreendo a relação entre indenizações aos que lutaram contra a ditadura (chamada de “bolsa-terrorista” pelos malufistas e afins – eles são equivocadíssimos, mas pelos menos são engraçados) e o PROER. Acho que é mesma coisa que comparar os o incentivos dados pelo BNDES com gasto governamental com escolas, por exemplo.
Discordo da política de indenizações. Não acredito que o Estado deva pagar a essas pessoas dinheiro algum, a não ser nos casos em que um preso político ficou impossibilitado de sobreviver do seu próprio trabalho por conta das torturas. Ou dos que sofreram violências tão graves que nunca mais conseguiram se restabelecer do ponto de vista físico – ficar assustado que nem a moçinha da novela não conta.
Esse, definitivamente, não é o caso do Ziraldo, do Jaguar, do Cony e de outros tantos que a gente conhece pelos jornais ou pessoalmente.
O Estado paga 1 milhão de reais para as pessoas que presas e depois tem provadas a inocência? Ser preso por um crime que não cometeu não é um dano causado pelo Estado?
Dois pesos e duas medidas. O pobre “filho da classe trabalhadora” (eita discurso antigo...) pode ficar em celas lotadas injustamente não receber um barão por isso. Mas a esquerda rica, que ganha uma grana preta com seus trabalhos intelectuais muitas vezes de pouco valor, pode ganhar. Quem está fazendo o tal “corte de classe”?
Tenho asco desse povo que vive do passado, que vive das dores da ditadura. Tenho mais asco ainda das pessoas que vivem com o dinheiro do governo por conta desse período. Talvez por essa falta de vergonha na cara que essa esquerda mercenária não tenha conseguido fazer revolução nenhuma.
A esquerda rica está com esse dinheiro por quê? O Ziraldo pode viver muito bem com a grana que ganha. Ele sofreu com a ditadura, mas foi impedido de trabalhar, de sobreviver por conta disso? O Cony precisa desse dinheiro para comer? Não, a não ser que a Folha e o mercado literário nesse país paguem muito, mas muito, mal.
Eu sou contra essa historinha de “dívida histórica”. Acho que é só mais uma faceta do cerceador corretismo político. É por isso que acho que o Brasil não deve nada a ninguém, pelo menos no que tange o passado. Nem pra esquerda, nem pra África, nem para a puta que pariu.
Já que você propôs tantas perguntas, coloco uma: se tortura é um crime hediondo, o que as FARC são? Criminosas? Mas isso é assunto para outro comentário...
É isso!
Beijos!

Helena disse...

http://www.estadao.com.br/estadaodehoje/20080410/not_imp154315,0.php

tangencia a discussão

Helena disse...

Americano inocente ganha US$ 1,25 milhão após passar 24 anos preso --
http://noticias.uol.com.br/ultnot/afp/2008/04/10/ult34u203038.jhtm
O dia em que tiver isso no Brasil, concodarei com as indenizações para presos políticos.
Beijos!!!